domingo, 20 de setembro de 2009

Dimensão Y - Parte 4


Data: 9 de Fevereiro, 1935 (madrugada)

O Desaparecimento de David Fearn
Os três investigadores ponderam a acção a tomar. Temendo adormecer ou serem acometidos por uma terrível visão que os obrigue a um acto homicida, decidem agir de imediato. Todos os indícios apontam para que David Fearn esteja a preparar um segundo projector da Dimensão Y com qualquer objectivo nefasto. A sua associação com Vock ainda é desconhecida assim como o local onde David possa ter transportado as caixas e onde esteja a construir o projector. Os investigadores pressupõem que a única maneira de descobrirem é falarem directamente com David no hospício de Vock. Que o seu estado mental é cada vez mais instável obriga a medidas desesperadas e imediatas. Decidem, pois, visitar o hospício tarde da noite.

Envolto no nevoeiro Londrino, o edifício com as grades nas janelas, estrutura rectangular e baixa e paredes cinzentas, tem um aspecto ainda mais ominoso. Um muro separa a propriedade do hospício da rua. Um portão dá acesso a uma via que conduz a uma rotunda em frente da entrada do edifício, mas os investigadores decidem estacionar na rua, a alguns metros do portão para evitar olhares indiscretos. Robert retira um distintivo do bolso. Seguido pelos seus companheiros, caminha até à porta e bate vigorosamente. Alguns momentos depois, surge uma enfermeira com um ar atónito. Visitas a esta hora da noite? Mas Robert está preparado. Com um ar resoluto, identifica-se como inspector da Scotland Yard e exige acesso às instalações. Apesar da reticência da enfermeira, os investigadores conseguem entrar.

A enfermeira, atrapalhada, afirma que não são permitidas visitas fora do horário normal e sem autorização do Dr. Vock. Robert agita a sua identificação diante dela e, com um tom autoritário, responde que qualquer obstrução à justiça é punível. A agitação atrai a enfermeira-chefe e dois assistentes e, na confusão, os investigadores conseguem obrigar a enfermeira-chefe a abrir a porta da cela de David. No entanto, toda a situação é muito suspeita, e ela ordena a uma das enfermeiras que ligue imediatamente ao Dr. Vock para esclarecer a situação. Sem tempo a perder, os investigadores abrem a porta da cela de David e... está vazia! As suspeitas começam a cair sobre Vock e toda a história do assassinato de Lucy Vock por David começa a ser mais do que uma coincidência. Sem quererem envolver-se directamente com Vock ou mesmo com a polícia, os investigadores saem do hospício.

Desta vez refugiam-se no carro e aguardam a chegada de Vock. Vêem-no chegar no seu carro, entrar no hospício. Alguns minutos depois, Vock sai como um relâmpago, entra no seu carro. Seguido de longe pelos investigadores, Vock regressa a sua casa. Os investigadores estacionam alguns metros à frente e observam a casa. Vock espreita algumas vezes à janela mas, alguns momentos depois, apaga a luz e tudo fica silencioso. Deixando passar o polícia de giro, os investigadores saem silenciosamente do carro e dirigem a casa de Vock para o confrontar.

O Dr. Vock e David Fearn
A rua está vazia e silenciosamente. Raras são as janelas com luzes acesas. Num bairro rico as pessoas deitam-se cedo. Os passos dos investigadores ecoam nos edifícios e a luz brilha no céu, inchada e amarela. Clive começa a sentir algo a observá-lo, algo obsceno e maléfico. Olha à sua volta e nada vê mas a sensação incomoda-o e é cada vez mais intensa. Pára. Os seus companheiros ficam surpresos. O cérebro de Clive começa a latejar. A sensação cada vez mais insuportável. Olhando para cima, Clive fraqueja e perde a calma. Nesse instante de horror, apercebe-se que a lua é um olho gigante que tudo observa. Mas a revelação leva-o ao limite da loucura quando, no seu subconsciente, Clive se apercebe que a lua é um portal que a qualquer momento deixará entrar os horrores da Dimensão Y, invadindo este mundo, mergulhando-o no caos e na insanidade.

Perdendo a calma e invadido por um turbilhão de horrores, Clive apressa o passo em direcção à casa de Vock. É imperativo obrigar o homem a dizer onde está Fearn, uma vez que ele é o director do hospício de onde o jovem desapareceu. Os companheiros seguem-no. Uma criada, em trajo de dormir e roupão, abre a porta, sobressaltada com as visitas àquela hora da noite. Forçando a entrada, os investigadores obrigam-na a chamar Vock. Para Robert e Rebecca, é óbvio que Clive não está a agir normalmente, com um ar agitado, e gestos bruscos. Gritando, exige a presença de Vock. Receando alertar a vizinhança, Robert e Rebecca tentam acalmá-lo.

Eis que surge Vock, em mangas de camisa. Clive ameaça-o. Os companheiros receiam que algo de terrível possa acontecer, mas Vock deixa-se intimidar, talvez porque a situação foge ao seu controlo. Aceita levar os investigadores até Fearn. Os quatro entram no carro de Rebecca e regressa ao hospício.

A Revelação Final
Sem perder tempo, os investigadores forçam a entrada no hospício perante o olhar incrédulo da enfermeira-chefe e outro pessoal. Tentado manter a discrição, os investigadores empurram Vock para o seu escritório, sob ameaça de arma escondida para evitar criar o pânico. Uma vez fechados no escritório, Vock conta que Fearn preparou de facto uma máquina numa sub-cave do hospício mas não sabe com que intuito. Os investigadores amarram Vock com a corda do cortinado e saem apressadamente. Encontram um elevador e dirigem-se para a sub-cave.

O som metálico do elevador não é suficiente para ocultar outro som perturbador: o som discordante e cacofónico de flautas. Robert apercebe-se que o som é igual aquele que ouvira dias antes e não consegue evitar um arrepio. O elevador pára revelando um cenário aterrador: seis grandes projectores, semelhantes ao protótipo do Dr. Williams, ancorados ao chão em círculo com correntes, apontados para o centro, emitindo fachos de luz. No centro dos projectores formou-se um cubo gigantesco, rodando sobre si próprio, mas cujo número de lados varia. Umas vezes 5 lados, outras vezes 9 lados. Este cubo é enorme, do tamanho de um Rolls Royce. Sob o cubo, encontram-se pessoas completamente nuas, presas dentro de gaiolas baixas e rectangulares, contorcendo-se em agonia. Os seus gritos rasgam os ouvidos dos investigadores. David Fearn toca uma flauta, ao ritmo cósmico de uma qualquer melodia insana. Mas o mais terrível são duas criaturas, semelhantes a bactérias que pairam no ar, em redor das máquinas, amorfas e cegas, tocando as suas flautas. A melodia demente é suficiente para causar o pânico no mais comum dos mortais mas os investigadores cerram lábios e, de algum modo, evitam o medo.

Clive corre para David Fearn, brandindo as suas soqueiras. O primeiro golpe atinge David na cara, atordoando-o mas não o deitando por terra. Robert dispara contra uma das máquinas, destruindo as lentes e desligando-a completamente. As criaturas agitam-se e avançam. Rebecca aguarda um ângulo sem obstáculos e dispara contra David ferindo-o numa perna. Este aguenta a dor e ataca Clive, invadido por uma energia demente. Clive evita o golpe mas tropeça numa das correntes dos projectores e cai. Os seres amorfos avançam sobre Rebecca e Robert.

Movendo os tentáculos, as criaturas atacam os dois investigadores. A dor é intensa e ambos sentem as forças abandoná-los. O seu corpo estremece sentindo o toque dos seres que não pertencem a esta dimensão e que nenhum ser são ousaria conjurar. Robert sabe intuitivamente que destruindo as máquinas poderá impedir o ritual. Clive levanta-se e empurra uma das máquinas, arrancando as correntes do chão e derrubando-a. A máquina desfaz-se numa explosão de fumo e de sons metálicos. Uma das criaturas vibra, pulsando entre esta e outra dimensão, e dissipando-se no ar. Clive consegue dominar David que, na sua fúria de defender as máquinas, vira as costas aos investigadores. Robert e Rebecca aproveitam a oportunidade para destruir mais uma máquina antes que a segunda criatura os atinja.

Envolta numa explosão, a criatura parece dissipar-se perante os investigadores. Talvez ao destruirem as máquinas, os investigadores tenham quebrado a ténue ponte entre a nossa dimensão e a Dimensão Y. Nunca se virá a saber ao certo.

As autoridades chegam ao local mas pouco descobrem. O Dr. Vock, libertado pelos enfermeiros enquanto os investigadores lutam pela vida na sub-cave, desaparece sem deixar rasto. Presume-se que tenha deixado Inglaterra para o Continente. David Fearn é de novo preso, gritando incessantemente por Azathoth e os seus flautistas cegos e idiotas. Quanto aos investigadores, um inquérito deduz que, apesar da sua falta de autoridade, conseguiram pôr termo a práticas ritualísticas ou mesmo satânicas na sub-cave do hospício como o comprovam os pacientes presos nas jaulas. Quanto às verdadeiras motivações para o homicídio de Lucy Vock, talvez nunca se venha a saber a verdade, mas o que é certo é que, por breves instantes, a máquina do Dr. Williams revelou uma dimensão para além da nossa onde o caos é absoluto. Felizmente, a experiência foi dada como terminada.

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