quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Dimensão Y - Parte 2


Data: 7 de Fevereiro de 1935

A Investigação do Homicídio
Numa tarde fria, os três investigadores reunem-se num restaurante em Soho, no West End. Sentados à mesa, os investigadores observam as pessoas na rua que caminham para o seu destino, ignorando os horrores que assombram os investigadores. Rebecca e Clive souberam, por intermédio de Williams, que Robert estava a investigar a morte de Lucy Vock e decidiram juntar-se-lhe, não obstante a apatia dos restantes presentes na experiência do dia anterior. Trocando notas, Robert e Clive constatam que ambos tiveram sonhos perturbadores cujos pormenores, embora diferentes, são suficiente semelhantes para sugerir uma coincidência perturbadora (ver capítulo 1, Pesadelos Não-Euclidianos).

Robert entra em contacto com o inspector-chefe encarregue do caso (ver capítulo 1, A Morte de Lucy Vock): Alan Fix. Um homem corpulento, ar sisudo e bigode farfalhudo, Fix recebe os investigadores. A verdade é que o caso de David Fearn é bastante simples. Um grupo de pessoas (um casal amigo, os Augé, e uma outra rapariga, June Kenyon) testemunhou o jovem atacar Lucy Vock durante o jantar e matar a senhora com um candelabro. Quando a polícia chegou ao local, alertados pelos gritos da governanta da casa, depararam com a pobre Srª Vock com o crâneo estilhaçado sobre a mesa, os convidados em estado de choque e um David Fearn, salpicado de sangue, ainda de candelabro na mão, balbuciando: o cubo, o cubo! O próprio admitiu não se recordar do evento. Actualmente, Fearn está na prisão mas o Magistrado da Coroa requereu que fosse enviado para o sanatório do Dr. Vock, marido da vítima. Fix parece satisfeito. O assassino no sanatório do marido da vítima! Ele terá o que merece!

Os investigadores voltam aos seus afazeres, combinando uma hora posterior, durante a tarde para continuarem a sua investigação. Ao regressar a casa, Robert apercebe-se de um som indistinto que o incomoda. Ganha súbita consciência que este som já o acompanha há algum tempo, mas só agora no silêncio de sua casa se apercebe distintamente da sua presença. O som é cacofónico, como se uma flauta tocando acordes aleatórios. Esforçando-se por ouvir melhor, Robert (que sabe estar sozinho no seu apartamento) começa a reconhecer um padrão caótico e sem harmonia. O investigador questiona a sua sanidade.

Entretanto, Rebecca sugerira anteriormente que se reunissem as pessoas presentes na experiência para trocarem impressões. De sua casa, entra em contacto com Eulalie Finch e os Drs. Steber, Sykes e Binder. De todos, apenas o Dr. Binder é incapaz de comparecer por estar ausente num seminário. A reunião é marcada para a noite do dia seguinte em casa de Rebecca.

Uma Amiga Destroçada
June Kenyon recebe os investigadores no seu luxuoso apartamento. Senhora de uma figura esbelta, loira e de olhos reluzentes, June está desvastada pela morte da sua melhor amiga, ouvindo uma ária de ópera no gramofone que, garante ela, é um bálsamo para os seus nervos. A sua história confirma aquilo que os investigadores já sabem. Fearn fora convidado por Otto Vock, o marido de Lucy. Os restantes foram convidados por Lucy. Rebecca demonstra grande interesse pela relação de Otto com Lucy. Aparentemente, os dois casaram depois de Otto a ter curado de uma grave depressão. Muitos dos amigos de Lucy desaprovaram a relação de ambos e acabaram por se afastar dela. Otto não era um homem de posses, ao passo que Lucy era uma rica herdeira. Ele fugira da Alemanha por qualquer motivo, deixando todas as suas posses, e vivera algum tempo na pensão da mãe de Fearn antes de conhecer Lucy. Mas o casamento não era tão feliz como parecia. Otto era sério e controlador e Lucy gostava de se divertir. Confidenciava à amiga (June) que se sentia sufocada. Mas ultimamente as coisas tinham mudado. Apesar da personalidade de Otto, Lucy tinha outro ar. Se June não a conhecesse, diria que Lucy tinha um caso fora do casamento.

Como o dia chegara ao fim, os investigadores decidem prosseguir no dia seguinte. Regressando cada um a sua casa, são atormentados por estranhos pesadelos. Robert vê-se no funeral da mãe de Julia Lemon, a sua secretária. Estão presentes poucas pessoas, de luto, e o nevoeiro cobre o cemitério como uma mortalha. Subitamente, alguém deixa cair o caixão. A tampa descai e Battle apercebe-se do corpo em decomposição da Srª Lemon, devorado por seres semelhantes a bactérias. No seu pesadelo, Ashford visita o filho na prisão que aguarda o dia da sua execução. O rapaz está a um canto virado para a parede da cela escura e lúgubre. Aproximando-se, Ashford chama o filho que não lhe responde. Tocando-lhe no ombro, o rapaz vira-se lentamente, mostrando ao pai as suas mãos em concha nas quais segura bactérias as quais devora e oferece ao pai. Rebecca é também atormentada por pesadelos, desta vez. Algo a compele a ver o quadro recentemente comprado. Desce até à biblioteca e, para seu horror, apercebe-se que o sol é um olho que a observa e pisca penetrando-a até ao âmago da sua alma.

Data: 8 de Fevereiro de 1935

Um Pequeno Escândalo
Os investigadores visitam as últimas testemunhas do crime, Alicia e Richard Augé. Alicia, em particular, preocupa-se com os danos que o negócio da família possa sofrer se os seus nomes forem associados a um homicídio escandaloso. Os Augé gerem uma grande empresa de cosméticos, Augé Cosmetics, que após o crash de 29 perdera bastante e quase fechara. Mas Alicia curtou a produção e reorientou a empresa para o mercado de perfumes de luxo, abandonando os clientes das faixas sociais mais baixas. Em poucos anos, a empresa tornou-se líder de mercado e Alicia pretende defender a fortuna da família com unhas e dentes. Enquanto Alicia é uma mulher austera e séria, cujos olhos brilham por detrás dos seus óculos, Richard é um homem elegante, calvo, que irradia sofisticação Continental. Ambos recebem os investigadores no seu apartamento no último andar de um edifício de luxo.

Alicia e Lucy eram conhecidas desde há muitos anos, sendo os Augé convidados frequentes dos Vock e vice-versa. Ambos confirmam todos os elementos já conhecidos. Fearn matou realmente Lucy com um candelabro após ela ter deixado cair cubos de açúcar sobre ele. A sua opinião do jovem torna-se aparente: "Pior do que vendedor é um vendedor arrogante e auto-didacta." Mas a sua opinião sobre Otto não é muito mais elevada. Segundo eles, Otto convidava Fearn para os jantares apenas para irritar Lucy. Durante a conversa, Robert apercebe-se que Richard se sente extremamente desconfortável com a presença dos investigadores e que, possivelmente, esconde algo. Sem quererem pressionar o homem sob o olhar atento da mulher, decidem retirar-se.

A Reunião
Nessa noite, os investigadores reunem-se com Eulalie Finch e os Drs. Sykes e Steber para conferenciarem sobre a experiência e os possíveis resultados nefastos. A opinião dos académicas não se alterou. A existência da Dimensão Y ainda . A noite desenrola-se agradavelmente. Depois do jantar os convivas mudam-se para a sala de estar onde o rádio toca uma música agradável. Eulalie, Rebecca, o Dr. Steber e o Dr. Sykes formam um grupo de bridge e jogam pela noite dentro. Até então, Clive e Robert conversavam nas poltronas diante da lareira quando Clive dá um pulo. Trémulo, aponta para um objecto diante de si numa mesa. Os restantes seguem o seu gesto. É uma cópia d'O Monte dos Vendavais que repousa aberto na mesa. Clive toca no livro e, hesitantemente, levanta-o. Mais ninguém parece ver o que ele vê. Ashford balbucia que o livro tem cinco lados. Perante o olhar incrédulo dos convidados, Rebecca dá o encontro por encerrado. Os Drs. Sykes e Steber comentam algo sobre o "pobre tipo não aguentar o seu álcool" e retiram-se acompanhados por Eulalie Finch.

Já os investigadores se recompuseram. Robert e Clive regressam a casa. Rebecca prepara-se para dormir quando algo lhe atrai a atenção no exterior da casa. Dirige-se à varanda, abre as portas. Não se vê vivalma e as ruas estão calmas. O céu estrelado e negro é como um manto sobre a capital do Império. Mas... algo... parece não estar bem. A lua, inchada e amarela, lança um luar doentio. É então que Rebecca se apercebe que a lua é um olho que a observa e pisca, penetrando-a até ao âmago da sua alma.

Data: 9 de Fevereiro de 1935

De manhã, Clive dirige-se à sua loja de antiguidades. O dia está particularmente frio e as pessoas como que se arrastam no nevoeiro Londrino. Mas Clive parece sentir algo mais. Desde que saiu de casa, não consegue livrar-se da sensação de estar a ser observado. Diante da porta da sua loja, olha em volta, mas a "presença" parece ser mais omnipresente e poderosa que meros olhos humanos. Olhando para cima, e esforçando a vista, Clive depressa compreende porquê. Apesar de invisível por detrás do grosso nevoeiro, Clive sabe que o sol é um olho gigantesco que o observa impediosamente. Arrepiado refugia-se dentro da loja onde é recebido pelo seu empregado, Robert.

Recompondo-se Clive prepara-se para mais um dia. Sobre o balcão está a edição matutina do The Daily Mail. Considerando que talvez uma leitura rápida o possa distrair e desanuviar a mente, Clive folheia as páginas do jornal até deparar com uma notícia surpreendente: o Dr. Alfred Sykes matara a sua esposa no dia anterior após regressar a casa da reunião!

A seguir: Dimensão Y - Capítulo 3