segunda-feira, 1 de março de 2010

Os Mortos Podem Voltar - Parte 1


Localização: Europa Continental (algures na Hungria)

Investigadores: Clive Ashford, Robert Battle, Rebecca Holmes, Charlotte Pitt

Data: 27 de Fevereiro de 1935

Ladrões de Sepulturas
Numa manhã fria de Fevereiro, Robert, Rebecca e Clive recebem um telefonema do Conde Dvorak que solicita amavelmente a sua presença na sua residência em Kensington. Os três companheiros aceitam o convite e encontram-se com o conde na sua mansão virada directamente para Hyde Park. A saúde frágil obriga-o a usar uma cadeira de rodas e, nesta manhã, ele parece particularmente afectado dos pulmões, tossindo constantemente e fazendo um grande esforço para respirar e falar. Sendo um homem prático, o conde é directo e não perde tempo. Recentemente, um amigo seu que vive no Continente, escreveu-lhe sobre um misterioso surto de roubo de cadáveres numa região remota dos Cárpatos. O responsável ou responsáveis ainda se encontram a monte e, dada a ausência de grandes cidades ou vilas que pudessem justificar o roubo dos cadáveres para um qualquer departamento de anatomia de uma universidade, a motivação para este crime assumia traços ainda mais tenebrosos.

Os investigadores aceitam o caso e fazem todos os preparativos para uma partida imediata. Rebecca passa os últimos dias em repouso devido aos ferimentos sofridos durante a sua última investigação (ver Dimensão Y). Entretando, escrevera a uma grande amiga sua, Charlotte, para que lhe fizesse companhia. As duas são amigas de infância e sendo Charlotte uma enfermeira, podia cuidar da amiga durante o período de convalescença. Como é natural, Rebecca confidenciou a Charlotte tudo o que tinha acontecido nas últimas semanas. Talvez impelida por um forte sentido de lealdade e amizade ou talvez uma grande curiosidade, Charlotte aceitou acompanhar a amiga ao Continente neste estranho caso.

A Figura no Bosque
Dias mais tarde, os quatro investigadores viajam de carroça pela região montanhosa dos Cárpatos. A paisagem é tão bela quanto inquietante, com as suas florestas negras, envoltas em lenda, com a muralha imponente das montanhas ao fundo. O carroceiro é um homem de traços germânicos, de cabelo grisalho e farto bigode. Chicoteia os cavalos, mantendo um passo acelerado como se temendo algo que se esconde nos bosques. A viagem não é das mais confortáveis. O caminho é de terra batida, serpenteando por montes e vales, longe da civilização. Aqui, os investigadores têm a sensação de viajar no tempo para uma época remota onde a superstição e as lendas dominam as mentes locais.

Robert está pensativo fumando o seu cachimbo quando o seu olhar é atraído para algo no bosque a alguma distância da estrada. Uma figura branca, uma pessoa decerto, mas cujo andar é inquietante, contorcendo-se ou coxeando. A esta distância é impossível dizer se é homem ou mulher e o carroceiro recusa-se a parar, temendo o cair da noite. Depois do pôr-do-sol, diz ele, os espíritos e outras coisas piores deambulam pelas florestas. Tarde demais. A carroça afasta-se e a figura desapareceu entre as árvores densas.

A Chegada à Aldeia
Num vale isolado dos Cárpatos, o destino dos investigadores é pouco mais do que um aglomerado de casas rústicas, quase amontoadas como que por protecção contra os perigos da floresta circundante. As casas exibem crucifixos nas janelas e os aldeãos benzem-se quando a carroça pára na praça central. Um grupo de pessoas, liderado por um homem baixo e gordo, aproxima-se. O homem é Herr Weber, o burgomestre da aldeia. Vem acompanhado pelo Inspector Schröth, um homem alto e esguio, cuja farda impecavelmente engomada, as botas de cano alto polidas e o monóculo, lhe dão um ar autoritário e pelo Dr. Gretler, um homem de meia idade e cabelos cinzentos, com um corpo forte e faces redondas.

Nervoso, Herr Weber faz as apresentações e sem mais demoras conduz os investigadores à casa funerária cujo proprietário é Herr Krehan, um homem alto e magro cujas as vestes negras acentuam a sua palidez e ar funebre. Pelo caminho são observados pelos aldeãos que assomam às janelas. O seu ar assustado sugere um temor supersticioso acentuado. Alguém grita de uma das casas, um homem forte e calvo com um comprido bigode negro, queixo quadrado e braços musculados. O seu avental de couro indica que é o ferreiro, facto confirmado por Herr Weber. O homem clama a morte dos responsáveis pelos roubos. Herr Weber esclarece que o irmão do ferreiro foi um dos homens que desapareceu.

A Reunião
Na casa funerária, um pequeno grupo de aldeãos responde ansiosamente às perguntas dos investigadores. O ponto da situação é o seguinte: nas últimas semanas, os cadáveres das aldeias da região foram roubados por pessoa ou pessoas desconhecidas. O Inspector Schröth queixa-se que mesmo colocando homens de vigia, os cadáveres são roubados na mesma. Os seus homens recusam-se a ficar no cemitério depois do anoitecer. Durante uns tempos, os aldeãos começaram a enterrar os seus mortos num terreno secreto mas continuaram a ser roubados. Nem mesmo cadeados ou caixões de metal serviram de protecção. Uma das famílias desafiou os costumes locais e em vez de um enterro cristão, optou por cremar o patriarca recentemente falecido numa pira fora da aldeia. Foram atacados com pedras lançadas dos bosques. Aterrorizados fugiram e quando voltaram o cadáver tinha sido levado. Clive pede uma lista de mortos recentemente roubados mas não existe qualquer padrão de idade, profissão ou sexo.

Alguém menciona que Norbert e o irmão, Karsten, foram os únicos com coragem para pernoitar no cemitério para tentar apanhar os responsáveis. Mas Norbert adormeceu e quando acordou Karsten tinha desaparecido, o que levanta algumas suspeitas entre os locais.

Charlotte mantém-se atenta ao ambiente. Numa aldeia tão remota e presa à religião como esta, os ritos funerários tem sido mantidos inalterados ao longo dos séculos. Os cadáveres não são embalsamados como sugere a ausência de equipamento para tal. Um forte cheiro a lixívia paira no ar, indicando a limpeza frequentente dos líquidos e outros fluídos de decomposição. Junto à parede, um pouco afastado, o Dr. Gretler acompanha atentamente a reunião. Charlotte repara que o doutor segura no seu braço direito como se estivesse com dores, talvez uma luxação. De facto, o doutor confirma a Charlotte e Rebecca que esteve envolvido numa altercação com o ferreiro da aldeia, o homem vociferante que os investigadores viram na vinda para cá. O impetuoso ferreiro, Norbert, acusou o doutor de roubar os cadáveres talvez por associação com a sua profissão e agrediu Gretler. Charlotte apercebeu-se que o médico se sente profunda e genuinamente injuriado.

A reunião é dada como terminada e os investigadores retiram-se. As duas jovens ficam instaladas na casa grande do burgomestre. Robert fica instalado na casa do Dr. Gretler e Clive recebe alojamento na casa funerária. Enquanto Rebecca e Charlotte aproveitam para se refrescar e descansar, Robert e Clive falam com Norbert. O ferreiro recebe-os com suspeição, duvidoso das intenções dos estranhos. Ele admite a contra-gosto a história do desaparecimento do irmão mas atribui o seu sono pesado a bruxaria. Tanto Clive como Robert sabem que Norbert se convenceu dessa "verdade" apenas para aliviar a sua culpa por ter adormecido.

O Cemitério
No dia seguinte, os investigadores visitam o cemitério local a uma légua da aldeia, sobranceiro aos montes e junto da orla da floresta negra. Uma level neblina cobre o chão como uma mortalha e estende os seus dedos brancos entre as lápides erodidas, muitas delas ilegíveis. Uma vedação de metal enferrujada circunda o terreno, aqui e ali já caída. Um portão, pendurado precariamente nas dobradiças, oscila ao vento soltando um lânguido chiar como o murmúrio de uma alma penada. Os investigadores acercam-se do local, procurando pistas que possam revelar algo sobre a identidade dos responsáveis pelos roubos. Horas antes Rebecca sugerira um plano arriscado. E se alguém se escondesse num caixão e encenassem um funeral aguardando que os criminosos roubassem o "cadáver?" No entanto este plano não fora aceite por Robert ou Clive que o rejeitaram sumariamente.

Muitas das campas estão abertas e algumas outras foram já cobertas depois de terem sido roubadas. Robert usa os seus sentidos aguçados pelos anos passados na Scotland Yard. Descobre um oculto conjunto de pegadas: botas grossas sugerindo uma pessoa alta e forte. Pela profundidade das pegadas, a pessoa terá partido do cemitério mais pesada do que quando chegou e, ao contrário dos restantes rastos que passam pelo portão, estas pegadas vêm da e voltam para a floresta. Na orla, as pegadas perdem-se por entre a vegetação rasteira mas Robert encontra em algumas das impressões pedaços de uma planta que não parece fazer parte da vegetação circundante. Charlotte identifica a planta como sendo uma taboa, que cresce principalmente em pântanos. As pistas sugerem então que os ladrões de cadáveres passaram recentemente por um pântano ou talvez usem o local para se esconderem. Regressando à aldeia, os investigadores consultam o Inspector Schröth que lhes faculta um mapa da região. De facto, a algumas léguas a norte do cemitério existe um pântano profundo.

O Ermita Louco
O rasto de pegadas depressa foi descoberto por Robert na orla do pântano onde a terra é mais húmida. O rasto segue ao longo das águas fétidas e de um verde doentio. As margens estão cobertas por taboas que se agitam ao vento e emitem um restolhar suave. As águas estendem-se por muitas léguas. Aqui e ali sobressaem pequenas ilhas de terra. As árvores grossas e negras, crescem torcidas como que se esforçando por chegar ao ar puro. Eventualmente, os investigadores vêem uma cabana de madeira primitiva elevada sobre suportes de madeira. Junto à cabana está uma canoa atada a um dos suportes. Estes suportes estão pintados como pernas de galinha. Charlotte recorda as lendas eslávicas de Baba Yaga, a lendária bruxa, que devorava crianças e vivia numa cabana com pernas de galinha. Robert experimenta a água com um bordão. Felizmente não é profunda. Alguém poderia chegar à cabana com água pela cintura. No entanto, Charlotte chama a atenção para o facto da água poder ser um potencial foco de doenças e que o ar do pântano é tóxico e uma exposição prolongada pode levar à demência.

Clive decide atravessar o pântano sozinho para minimizar os riscos. Chega à cabana e regressa com a canoa para transportar os seus companheiros. Remando sileciosamente, os quatro aproximam-se da cabana. Param debaixo dela e vêem um alçapão que permite entrar no interior. Robert é o primeiro. Apoia-se no rebordo da abertura e sobe. Um grito selvagem ecoa e Robert sente algo pontiagudo espetar-se no seu ombro. Uma figura desgrenhada, de olhos dementes e vestida com peles de animais e roupas andrajosas agita uma lança contra o detective. Robert saca da sua pistola mas antes de poder disparar a figura salta pela janela e desaparece no pântano. Felizmente o golpe desferido não feriu Robert.

O interior da cabana tem apenas uma cama de madeira com cobertores sujos e mal-cheirosos, uma arca com pertences antigos e roupas, os utensílios básicos de sobrevivência e pilhas de ossadas de animais. Infelizmente, os investigadores precisam de falar com o ermita que sabe com certeza alguma coisa sobre o roubo dos cadáveres. O plano, traçado por Rebecca, consiste em esperar escondidos nos arbustos, nas margens da água, longe da vista. Certamente ele há-de voltar. No entanto, Robert e Clive rejeitam mais uma vez esta proposta e preferem que um deles, Clive, espere na cabana enquanto o resto se esconde na margem. O plano é um erro pois o ermita, ao voltar, apercebe-se de alguém dentro da cabana e foge. Robert, Rebecca e Charlotte depressa o alcançam mas o homem defende-se violentamente. Robert saca da sua pistola e com um tiro certeiro, acerta na mão do ermita. Dois dedos da mão desfazem-se com o impacto da bala, mas o ermita parece não se deter. Agarrando-se a uma das raparigas, tenta mordê-la, urrando de raiva. Rebecca aponta a sua pistola e, com um som doentio, abre um buraco no peito do ermita. Apesar do sangue que jorra e partes de uma costela visíveis, o ermita mantém-se agarrado sem perder as suas forças. Enquanto Clive chega ao local, já os três companheiros mantêm o ermita preso, não sem antes o terem ferido com bastante gravidade, embora o homem pareça imbuido de uma força sobrehumana e um total desdém pela dor.

Enquanto Charlotte atesta que os ferimentos teriam detido um homem comum e que a sua força sobre-humana e resistência aos ferimentos parece derivar do miasma do pântano que poderá causar mutações a longo prazo. O ermita balbucia palavras incoerentes. Até que o cansaço parece tomar conta de si. Por momentos, o homem parece cair em si e pede que o libertem. A troco disto, os investigadores insistem em saber toda a história. Ficam a saber que o ermita se chama Bodgan e admite que roubou os mortos do cemitério mas apenas a pedido do barão Americano, que é um homem de ciência. Bodgan não sabe o uso que o barão dá aos cadáveres. Os investigadores deliberam o que fazer. De facto, o barão merece ser investigado mas Bodgan deve ser primeiro entregue às autoridades competentes. Posto isto, decidem regressar à aldeia com Bodgan amarrado e, estando já o dia no fim, prosseguir as investigações no dia seguinte.

A seguir: Os Mortos Podem Voltar - Parte 2

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